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A LITURGIA ANGLICANA NÃO É IGUAL À MISSA ROMANA
Rev. Virgilio Cezar H. P. Torres
Rev. Virgilio Cezar H. P. Torres
Hoje, é comum encontrarmos em sites de algumas igrejas anglicanas da linha "anglo-católica" (na verdade, pseudoromanistas), a designação genérica de MISSA para as atividades litúrgico-pastorais, nos momentos cúlticos destas comunidades, como se a Liturgia Anglicana e a Missa Romana fossem a mesma coisa. E não são. Primeiro é importante lembrar que "anglo-católicos" não são católicos romanos disfarçados. Quem afirma o contrário disso está sendo, no minimo, leviano. Muito anglo-católicos, inclusive, são antipapistas e antiromanistas. Valorizar elementos da Tradição católica não é, de modo algum, ser um papista. O grande e grave problema é copiar descaradamente as práticas e a teologia romana, um significativo e verdadeiro plágio.
Neste pequeno texto vamos analisar por que é imprópria essa comparação entre a Missa Romana para a designação da Liturgia Anglicana, sob os aspectos históricos, doutrinários e teológicos. Como professor de Liturgia Anglicana, não posso me calar diante da confusão que muitos provocam no uso destas terminologias indevidas, principalmente pelo fato de que aqueles que procuram o Anglicanismo o façam de modo a pensar encontrar uma igreja "católica" no sentido impróprio, no sentido em que não somos.
Somos católicos, não restam dúvidas. É plenamente possível ser católico sem ser romano. Somos católicos por três motivos. Primeiro, porque a única Igreja que existe na face da terra é a Igreja UNA, SANTA, CATÓLICA E APOSTÓLICA, formada por todos aqueles e aquelas que foram salvos por Jesus Cristo e, por isso, são chamados cristãos. Católico significa Universal, de todos os povos, em todos os tempos, para todas as pessoas. O problema é a associação que se faz entre a designação "católico" e a confusão com o Romanismo, este sim, ligado ao Papa e ao seu séquito. Somos católicos porque a Igreja da Inglaterra, da qual descendemos os anglicanos, não é uma igreja nova, surgida da vontade de Henrique VIII ou dos seus sucessores protestantes, Eduardo VI e Elizabeth I. O que houve foi REFORMA, não refundação. Rompeu-se com a instituição romana, não com a Igreja Católica. Rompeu-se com o Papa, não com a Fé da Igreja Cristã. A Igreja da Inglaterra e todos os anglicanos descendem historicamente da Igreja Celta, que tinha uma tradição paralela com a Igreja Romana, assim como a Igreja Ortodoxa. Por isso, Henrique VIII não fundou nada.
Segundo, somos católicos porque cremos nos Credos Históricos (Apostólico, Niceno e Atanasiano), cuja fé expressada é a Fé da "Igreja Indivisa" – uma Bíblia, Dois Testamentos, Três Credos, Quatro Concílios, Cinco Séculos. A fé expressa aqui é a Fé Católica e nela cremos. É a fé dos Apóstolos, dos Mártires, dos Pais da Igreja.
Terceiro, porque cremos que a Fé é guardada e transmitida de geração em geração pela ação do Espírito Santo nas Escrituras, na Tradição (Consenso dos fiéis, ministério dos Bispos como guardiões da Fé) e na Razão. É a fé de ontem, de hoje e de sempre. No dizer de São Vicente de Lerins: "Ortodoxia é aquilo que foi crido em toda parte, sempre e por todos. Diante disso não se deve permitir que o pragmatismo teológico afaste a igreja das Escrituras e do ensino que foi crido em toda parte sempre e por todos os cristãos".
No entanto, o Arcebispo Thomas Cranmer, verdadeiro reformador da Inglaterra, quis dar à Igreja uma feição reformada clara e abolir da prática cristã aquilo que era considerado abuso ou superstição. Ele mesmo afirma no prefácio do Primeiro Livro de Oração em Comum, 1549: " com o transcorrer dos muitos anos, esta disposição piedosa e decorosa dos pais primitivos foi de tal maneira alterada, violada e esquecida, com a semeadura de histórias incertas, lendas, responsórios, versículos, repetições vãs, comemorações e cânones sinodais, que comumente quando se começava a leitura de qualquer livro da Bíblia, antes de se lerem três ou quatro capítulos, todos os demais ficavam sem serem lidos". E qual a base que ele usou? Como todos os reformadores do século XVI, a base era a Bíblia Sagrada, única fonte e autoridade da fé e prática dos cristãos. Essa afirmação está presente em todas as confissões de fé protestantes e também nos 39 artigos de religião (Artigo VI). Aliás, foi o distanciamento desses pseudo-romanistas dos 39 artigos e a simples adoção do breve "Quadrilátero de Lambeth" que gerou toda a confusão que temos hoje e que ora serve de base para a lavra deste artigo.
O chamado "Quadrilátero de Lambeth" é um resumo de fé, não uma confissão de fé. Ele pode ser adotado pelos anglicanos? Com certeza, já que coloca os pontos principais que caracterizam uma Igreja Anglicana: A Bíblia, Os Credos, Os Sacramentos e o Episcopado. Mas são estes artigos tão vagos que poderiam identificar uma centena de Igrejas ou Comunhões além dos anglicanos.
O que dizem os 39 artigos sobre esse assunto? Em primeiro lugar, analisemos o artigo XIX, que diz:
"A Igreja visível de Cristo é uma congregação de fiéis, na qual é pregada a pura Palavra de Deus, e são devidamente administrados os Sacramentos conforme à Instituição de Cristo em todas as coisas que necessariamente se requerem neles. Assim como a Igreja de Jerusalém, de Alexandria, e de Antioquia erraram; assim também a Igreja de Roma errou, não só quanto às suas práticas, ritos e cerimônias, mas também em matéria de fé".
Vejamos: a Igreja de Roma errou em matéria de fé e errou em matéria de Liturgia. Isso, peremptoriamente, reforça a ideia de que a Liturgia Anglicana NÃO é a Missa Romana. Por quê? Continuemos a nossa análise: "A Igreja visível de Cristo é uma congregação de fiéis, na qual é pregada a pura Palavra de Deus...". O que vemos na Missa Romana? Idolatria, culto aos santos e às imagens, orações pelos mortos, a doutrina da transubstanciação, tudo isso contrário à pura palavra de Deus – e claramente denunciado nos 39 Artigos de Religião! Além disso, continua o artigo: "...e são devidamente administrados os Sacramentos conforme à Instituição de Cristo em todas as coisas que necessariamente se requerem neles". Ou seja, também a ministração dos sacramentos deve estar em conformidade com o que Cristo realizou. Não cremos no batismo infantil como regeneração batismal, nem na transubstanciação como resultado da consagração do pão e do vinho na Ceia do Senhor. Não, a Liturgia Anglicana NÃO é igual à MISSA Romana.
Continuando nos 39 artigos, leiamos o artigo XXV:
"Os Sacramentos instituídos por Cristo não são unicamente designações ou indícios da profissão dos Cristãos, mas antes testemunhos certos e firmes, e sinais eficazes da graça, e da boa vontade de Deus para conosco pelos quais ele opera invisivelmente em nós, e não só vivifica, mas também fortalece e confirma a nossa fé nele. São dois os Sacramentos instituídos por Cristo nosso Senhor no Evangelho, isto é, o Batismo e a Ceia do Senhor. Os cinco vulgarmente chamados Sacramentos, isto é, Confirmação, Penitência, Ordens, Matrimônio, e Extrema Unção, não devem ser contados como Sacramento do Evangelho, tendo em parte emanado duma viciosa imitação dos Apóstolos, e sendo em parte estados de vida aprovados nas Escrituras; não tem, contudo, a mesma natureza de Sacramentos peculiar ao Batismo e à Ceia do Senhor, porque não tem sinal algum visível ou cerimônia instituída por Deus. Os Sacramentos não foram instituídos por Cristo para servirem de espetáculo, ou serem levados em procissão, mas sim para devidamente os utilizarmos. E só nas pessoas que dignamente os recebem é que produzem um saudável efeito ou operação; mas os que indignamente os recebem adquirem para si mesmos a condenação, como diz São Paulo.
Procissão do Santíssimo Sacramento? Essa prática é romanista, não anglicana. Porém, já vi pseudo-anglicanos, que gostam de usar uma palavra que tem sido erroneamente utilizada, "ethos", fazendo procissão do Santíssimo Sacramento. Absurdo chamar essa prática de anglicana.
Vejamos mais um artigo, o XXVIII:
"A Ceia do Senhor não só é um sinal de mútuo amor que os cristãos devem ter uns para com os outros; mas antes é um Sacramento da nossa Redenção pela morte de Cristo, de sorte que para os que devida e dignamente, e com fé o recebem, o Pão que partimos é uma participação do Corpo de Cristo; e de igual modo o Cálice de Bênção é uma participação do Sangue de Cristo. A Transubstanciação (ou mudança da substância do Pão e Vinho) na Ceia do Senhor, não se pode provar pela Escritura Sagrada; mas antes repugna às palavras terminantes da Escritura, subverte a natureza do Sacramento, e tem dado ocasião a muitas superstições. O Corpo de Cristo é dado, tomado, e comido na Ceia, somente dum modo celeste e espiritual. E o meio pelo qual o Corpo de Cristo é recebido e comido na Ceia é a Fé. O Sacramento da Ceia do Senhor não foi pela ordenança de Cristo reservado, nem levado em procissão, nem elevado, nem adorado".
Aqui seremos mais minuciosos. A Ceia do Senhor é um sacramento: participamos da bênção do Corpo e Sangue de Cristo pela fé. Um sacramento, por definição, é um sinal, um símbolo, ele não é a realidade que simboliza. Os 39 artigos reforçam a ideia reformada do Memorial, aliada à noção do recepcionismo, ou seja, da lembrança da morte e ressurreição do Senhor até que Ele venha e a comunhão do Corpo de snague de Cristo quando os recebo com fé. Além disso, há aqui a condenação clara de atitudes romanistas na Liturgia. Não há aqui a permissão para a reserva eucarística, prática medieval que tinha por finalidade apenas levar a comunhão aos presos e doentes e que degenerou na adoração, elevação, procissão e adoração da mesma. Na mobília de uma igreja anglicana não há lugar para um "sacrário".
O artigo XXXI continua com a condenação da Liturgia Romana:
"A oblação de Cristo uma só vez consumada é a perfeita redenção, propiciação, e satisfação por todos os pecados, tanto originais como atuais, do mundo inteiro; e não há nenhuma outra satisfação pelos pecados, senão esta unicamente. Portanto os sacrifícios das Missas, nos quais vulgarmente se dizia que o Sacerdote oferecia Cristo para a remissão da pena ou culpa, pelos vivos ou mortos, são fábulas blasfemas e enganos perigosos".
Na Missa romana, acredita-se na renovação, na repetição do sacrifício do Calvário. Veja o que diz este texto, romanista, a respeito da MISSA:
"1) O que é a Missa?A missa é o sacrifício da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo que se realiza sobre o altar.
2) Como pode ser a Missa o sacrifício de Jesus se este morreu na Cruz há dois mil anos? Pelo rito da Santa Missa, o mesmo sacrifício realizado há dois mil anos torna-se presente novamente, de um modo novo, um modo sacramental, ritual, incruento, ou seja, sem derramamento do Sangue, mas verdadeiro e eficaz.
3) Porque dizemos que a missa é o mesmo sacrifício, presente de modo sacramental?Por que nela aquele mesmo sacrifício de Jesus se apresenta diante de nós através de sinais sensíveis que realizam a graça sacramental. Estes sinais, no caso da missa são as espécies consagradas, o pão e o vinho que, na consagração, se transformam no Corpo e Sangue de Jesus pelas palavras que o sacerdote pronuncia." (https://www.capela.org.br/Missa/manual.htm) .
Isso é MUITO diferente do que dizem os Artigos de Religião. Os anglicanos creem que o sacrifício de Cristo é único, perfeito e suficiente. Não fazemos o sacrifício de novo, e de novo e de novo a cada celebração. Oferecemos a Deus o sacrifício de nós mesmos, conforme Romanos 12:1-2. Foi por isso, que começou-se a exigir a remoção dos altares de pedra na Inglaterra após a Reforma. O bispo Ridley lançou a campanha em maio de 1550, quando ordenou que todos os altares fossem substituídos por mesas de comunhão de madeira em sua diocese de Londres. Outros bispos em todo o país seguiram seu exemplo, mas também houve resistência. Em novembro de 1550, o Conselho Privado ordenou a remoção de todos os altares em um esforço para acabar com todas as disputas. Enquanto o livro de orações (1549) usava o termo "altar", a maioria dos bispos preferia uma mesa de madeira porque na Última Ceia Cristo instituiu o sacramento em uma mesa. A remoção dos altares também foi uma tentativa de destruir a ideia de que a Eucaristia era o sacrifício de Cristo. Durante a Quaresma em 1550, John Hooper pregou: "enquanto os altares permanecerem, tanto o povo ignorante quanto o padre ignorante e mal-intencionado sonharão sempre com o sacrifício". Como não há sacrifício, não há um sacerdócio no sentido romano do termo.
Pensemos um pouco: Por que o Arcebispo Cranmer foi queimado por heresia? O que o levou à condenação? Porque Latimer e Ridley, outros bispos e mártires, foram alvo da perseguição e condenação pela Rainha romanista Mary, a sanguinária, filha de Henrique VIII com Catarina de Aragão e que sucedeu Eduardo VI? Eles eram contrários aos princípios da Igreja Romana, e inclusive, de sua Liturgia. Isso digo como teólogo e com estudioso de História, para quem contra fatos não há argumentos.
No Prefácio do primeiro Livro de Oração em Comum (1549), Cranmer diz que a grande necessidade das pessoas não era ritual, era a Leitura diária da Palavra de Deus para a edificação dos fiéis. "A leitura e ensino da Palavra de Deus foi a característica mais evidente do Livro de Oração em Comum de Cranmer e este sem duvida definiu a característica do Anglicanismo. No Prefácio do Livro de Oração, ele escreveu que era consciente da importância de voltar a costume dos 'Pais antigos' da Igreja,
'que toda a Bíblia fosse lida uma vez a cada ano…' que tanto o clero como o povo deve buscar a piedade e 'dando frutos cada vez mais no conhecimento de Deus, e sendo cada vez mais inflamados com o amor da Religião verdadeira.' Desde o princípio do Anglicanismo, a Igreja da Inglaterra colocou o maior ênfase possível no ensino e instrução.(...)
Contudo, em todo o mundo, a maioria dos Anglicanos estão firmes mantendo a ênfase "Protestante" no ensino e pregação da Bíblia, nas doutrinas reformadas da fé como são expressadas nos Artigos, e a supremacia da Escritura pra ensinar e guiar em todas as matérias.
"Como Hooker, muitos Anglicanos, consideram as Escrituras como a autoridade final em todas as matérias, e tradição e razão como instrumentos ao nosso serviço pra entender as Escrituras; não como donos que tem autoridade sobre as Escrituras ou parceiros que tem a mesma autoridade que as Escrituras. Historicamente e teologicamente, a característica que define o Anglicanismo é sua doutrina Protestante e Reformada, que reflete os ensinos da Bíblia" (Robin G. Jordan).
Isso NÃO é Missa romana, nem romanismo!
Em abril de 1552, o Parlamento aprovou a Segunda Lei da uniformidade do culto e determinou o uso de um novo LOC a partir do Dia de Todos os Santos. Comparado com o primeiro LOC, este foi mais "protestante", eliminando os usos das expressões como Missa, Altar, Sacrifício e enfatizou a Igreja inglesa como Igreja Nacional. Também proibiu os costumes, gestos, paramentos e ornamentação no altar ligados à Igreja Romana. Isso tudo foi ratificado, confirmado, no LOC de 1662. Sendo assim, não existe missa anglicana no sentido de ser uma espécie de Missa Romana. Não realizamos sacrifício, por isso não temos Altar, mas a Mesa da Comunhão ou Mesa do Senhor. Por isso, os clérigos não são sacerdotes no sentido romano, mas Ministros, sendo sacerdotes apenas no contexto de que somos um povo de sacerdotes (Sacerdócio Universal de todos os Crentes).
Deve-se notar também que a Liturgia da Santa Comunhão não era uma prática dominical no Anglicanismo primitivo. Isso é uma prática bem recente, surgida no século XIX. Se não, vejamos: por que o LOC de 1662, logo após a Ordem da Santa Comunhão, traz fórmulas para que o Ministro avise o povo sobre a celebração? Se fosse uma prática cotidiana, rotineira, não haveria necessidade de aviso prévio, haveria?
Sobre isso também afirma James White:
" A história de sucesso na oração pública diária da Reforma aconteceu na Igreja da Inglaterra. O arcebispo Thomas Cranmer, principal arquiteto do Livro de Oração Comum de 1549 e 1552, estava familiarizado com o trabalho dos reformadores do continente e do cardeal Quiñones. Ele combinou matinas, laudes e prima do Sarum Breviary medieval inglês em "Matinas", ao passo que vésperas e completas foram condensadas no "Evensong". Na edição de 1552, as designações passaram a ser "Oração da Manhã" e "Oração da Noite". As horas do meio-dia desapareceram totalmente. Cranmer esclareceu seu objetivo no "Prefácio", onde ocasionalmente até usou as palavras de Quiñones. Ele esperava "que as pessoas (pelo ouvir diário da Sagrada Escritura lida nas igrejas) haveriam de beneficiar-se cada vez mais no conhecimento de Deus e ficar mais inflamadas com o amor da sua verdadeira religião". Acreditando (erroneamente) que os "antigos pais" tinham previsto leitura diária sistemática de modo a cobrir "toda a Bíblia (ou a maior parte da mesma)" a cada ano para o povo, Cranmer eliminou todos os "hinos, responsórios, invitatórios e similares que efetivamente interrompiam o curso contínuo da leitura da Bíblia" . "As regras", segundo ele, eram "poucas e fáceis" e somente o livro de orações e a Bíblia eram necessários para conduzir os ofícios. A uniformidade nacional ficaria assegurada, uma vez que "todo o reino terá apenas um uso".
O esquema é bastante simples; os salmos são "lidos em sua totalidade uma vez por mês", vários a cada dia na oração da manhã e da noite, começando da frente no início do mês. A Bíblia é lida em sua totalidade na sequência (lectio continua), começando por Gênesis, Mateus e Romanos (Antigo Testamento e evangelho nas matinas, Antigo Testamento e epístola no Evensong). O restante do ofício consiste numa magistral combinação de elementos dos ofícios do Sarum Breviary. Estes incluem o Pai-Nosso, versículos, salmos com Gloria Patri, duas leituras bíblicas, cânticos, Kyrie, Credo, Pai-Nosso, versículos e três coletas de encerramento. Uma mudança ocorreu em 1552 com o acréscimo de um prelúdio penitencial que consistia em sentenças penitenciais da Escritura, num chamado à confissão, numa confissão geral e na absolvição. Precedentes para esta maneira de começar se encontram tanto em Quiñones (nas matinas) quanto nos reformadores do continente. Em 1662, orações adicionais e a previsão de um hino foram acrescentadas ao final dos ofícios. Uma grande tradição de ofícios diários cantados distingue o culto nas catedrais inglesas.
O sucesso de Cranmer foi indubitável. Com efeito, sua oração da manhã e da noite, além de proporcionar o ofício diário, tornou-se o culto dominical anglicano normal por 300 anos. A litania, a liturgia da palavra da ceia do Senhor e um sermão geralmente eram ajuntados à oração da manhã aos domingos até o séc. 19 adentro, causando certa redundância. Mas a piedade eucarística popular e a comunhão freqüente na Inglaterra tiveram que esperar pelos metodistas do séc. 18 e pelos tractarianos do séc. 19".
Continua:
"Os reformadores anglicanos tomaram decisões diferentes, uma vez que se beneficiaram de orientação gratuita, baseada em duas décadas de experiência com liturgias vernaculares, dos reformadores continentais. Sendo basicamente uma revisão conservadora da liturgia da palavra do Sarum, o rito de Cranmer de 1549 começava com um salmo de intróito, Pai-Nosso, oração de coleta por pureza, Kyrie, Gloria in excelsis, saudação, coleta do dia e coleta pelo rei . Seguem-se imediatamente a epístola e o evangelho, vindo a seguir o Credo Niceno e o sermão. O culto passa então para a exortação e a eucaristia. Dois elementos foram transplanta#dos para dentro da própria eucaristia: intercessões aparecem logo após o Sanctus, e a confissão vem antes da comunhão. Na versão de 1552 houve uma guinada na direção reformada: os salmos de intróito desapareceram e o Decálogo foi acrescentado imediatamente após a oração de coleta por pureza. As intercessões voltaram para logo após o sermão e as ofertas, e a confissão agora sucede as exortações, imediatamente antes do sursum corda. O Kyrie desapareceu e o Gloria in excelsis foi banido para imedia#tamente antes da bênção final na eucaristia. Uma rubrica previa a finalização do ofício após a oração geral de intercessão, quando não se celebrava a comunhão. Isto permitia separar a liturgia da palavra da eucaristia, após mil anos de unidade. Por três séculos esta "ante-comunhão" ou "segundo oficio" com sermão se seguiu à oração matutina e à litania na maioria dos domingos e a eucaristia não era celebrada com freqüência na maioria das igrejas paroquiais. Desde então esse padrão tem sido destrinchado gradativamente, ao longo dos anos".
E ainda:
"O primeiro Livro de Oração Comum anglicano, de 1549, trazia um rito de comunhão vernacular que era visivelmente uma mistura conservadora do rito Sarum da Inglaterra meridional com a teologia da Reforma. Boa parte da teologia eucarística do Livro de Oração Comum de 1549 era deliberadamente ambígua, permitindo interpretações tanto católicas quanto protestantes. Três anos mais tarde este rito foi substituído por outro que eliminou a maior parte da ambigüidade e implicou uma drástica reestruturação. O cânon foi segmentado em dois. A oblação foi colocada após a comunhão de modo a eliminar qualquer sentido tradicional de sacrifício. Apesar de alterações menores feitas em 1559, 1604 e 1662, aquilo que é basicamente o rito de 1552 continua em uso oficial na Inglaterra".
Outro detalhe: alguns afirmam que utilizam o "Rito de Sarum" em suas celebrações, julgando assim celebrar segundo o "Rito Anglicano". Em primeiro lugar, a Liturgia de Sarum é uma Liturgia pré-tridentina, portanto, anterior ao século XVI, sendo incorporado como um dos ritos latinos, variações do Rito Romano, tal qual os ritos bracarense e moçárabe, por exemplo. Era um rito usado na Diocese Salisbury e incorporado como Rito aprovado pela Igreja de Roma. Um rito romano, portanto. O que se chama hoje de "Uso Anglicano" é uma alternativa criada pelo Papa João Paulo II para paróquias que anteriormente foram anglicanas e se ligaram à Igreja de Roma, em 1980. É uma variante do Rito Romano e assemelha-se, por isso, à Missa Tridentina. Existem poucas paróquias desse rito, sendo que todas elas estão nos Estados Unidos da América (EUA). É portanto, absurdo litúrgico, histórico ou teológico chamar este rito de anglicano, pois não o é.
Sinceramente, creio que temos agora um momento especial na história do Anglicanismo. O Papa Bento XVI, através da constituição apostólica "Anglicanus Coetibus" abriu a oportunidade para "anglicanos" que tivessem o desejo de uma plena comunhão com a Sé Romana o pudessem fazê-lo. Mas ainda ali a maioria destes chamados "anglo-católicos" (e como vimos que não são, são pseudo-romanistas) não se sentiria a vontade, pois o Papa é um conservador e esses indivíduos são, em sua ampla maioria, liberais. Na verdade, temos uma contradição: como podem ser tradicionalistas (O Papa é um tradicionalista) e ao mesmo tempo liberais? É um parodoxo, mais um que vem nos desafiar.
Meus amados irmãos pseudo-romanistas: estamos na hora da decisão e Roma é um caminho alternativo, embora um caminho conservador. Quem sabe não é a hora de "sair do armário" e assumir seu romanismo? O mal que estas posturas fez ao Anglicanismo, e no Brasil, especialmente, é irremdiável. A Igreja Anglicana era promissora, crescente e missionária...hoje minoritária, desconhecida e marcada por um sincretismo com o romanismo, sem igual.
Portanto, não confundamos as coisas: a Liturgia Anglicana, conforme o Livro de Oração em Comum NÃO é igual à MISSA Romana. Se desejamos descobrir as características definitivas do Anglicanismo em questões de sua doutrina e ensino, então precisamos voltar, além do movimento de Oxford do século 19, aos inícios do Anglicanismo, aos escritos dos Reformadores do século 16.
No seu livro, "Richard Hooker e a Autoridade da Escritura, tradição e Razão" (Paternoster, 1997), Nigel Atkinson demonstra que Richard Hooker (1554-1600), reconhecido pelos Anglicanos como um dos seus teólogos mais importantes, não acreditava que as doutrinas e ensinos da Igreja da Inglaterra era uma via média entre os ensinos do Catolicismo Romano e os ensinos Reformados de Genebra. De feito, Atkinson demonstra que Hooker estava tanto ou mais convencido das doutrinas da Reforma como seus oponentes Puritanos.(cf. Robin G. Jordan).
A
LITURGIA NA IGREJA EPISCOPAL
Rev. Virgilio Cezar H. P. Torres
Rev. Virgilio Cezar H. P. Torres
Toda igreja é litúrgica, todo culto tem uma ordem, mesmo que seja bem simples, como louvor, pregação, avisos e despedida. Algumas igrejas têm liturgias mais elaboradas, seguindo uma rica tradição, nestes mais de dois mil anos de Cristianismo. A Igreja acumulou um tesouro riquíssimo de orações e frases usadas na adoração ao Cristo Ressuscitado. Seguindo a antiga expressão "lex orandi, lex credendi, lex vivendi", "como oramos assim cremos, e assim vivemos", temos uma via de mão dupla acontecendo no culto, oramos como cremos, e cremos como oramos. O culto revela o que igreja crê, e como crê. O que é central em uma liturgia mostra o que é central na vida deste povo. Por exemplo, se o centro de uma liturgia é "sentir-se bem', então provavelmente este é um culto aos homens e não a Deus, pois eles são o centro do culto.
A liturgia cristã tem no centro o Cristo, então celebra o "mistério da fé": "Cristo morreu, Cristo ressuscitou, Cristo voltará". A liturgia é a adoração pública a Deus pelo seu povo de acordo com um padrão e forma estabelecida. Liturgia é a adoração da igreja por meio do rito, e rito é uma rotina, ou seja é a nossa rotina de adoração a Deus.
"A liturgia não é um assunto secundário na Escritura é "O" assunto. Deus criou o mundo como um espaço litúrgico, e pretende preenchê-lo com adoração, jubilosa e eterna. A liturgia é o alfa e ômega da história bíblica. É a razão para qual Deus criou os seres humanos e tudo mais." (Peter Leithart).
Nós, episcopais, adoramos a Deus com uma liturgia estruturada segundo o "Livro da Oração em Comum", LOC, que foi organizado por Thomas Cranmer, o reformador inglês. Este livro é a "Bíblia organizada e orquestrada para a finalidade da oração e adoração a Deus". O LOC é um livro saturado pela Bíblia, e é deste livro que os ministros formulam as liturgias do culto anglicano. Por meio da liturgia a igreja ora em uma só voz, com ordem, beleza, profunda devoção e grande dignidade. Não existe uma liturgia única na igreja episcopal, são inúmeras formas de fazer isto e vamos mostrar como fazemos em nossa Comunidade, a Comunidade da Reconciliação.
Nossa liturgia pode ser dividida em quatro partes:
(1) os Ritos Iniciais;
(2) a Liturgia da Palavra;
(3) a Liturgia Eucarística; e
(4) os Ritos Finais.
O Culto ao Senhor segue um caminho, uma jornada do discípulo em missão, este padrão se encontra em toda a tradição episcopal e retrata uma viagem quádrupla da Igreja:
(1) Viemos do mundo, para a eterna presença de Deus,
(2) Através de sua Palavra,
(3) e de seu sacramento,
4) retornamos ao mundo em missão.
Esta macroestrutura do Culto Eucarístico segue uma referência bíblica, a da aparição de Cristo após sua ressurreição no caminho de Emaús, onde os discípulos saindo de Jerusalém encontram Jesus, que faz uma exposição das Escrituras (Palavra) antes de se fazer conhecer a dois discípulos no partir do pão (Sacramento) em Emaús, depois disto eles retornam para continuar a missão em Jerusalém (Lucas 24: 13-34). Além disso, segue o exemplo da Igreja primitiva de dedicar-se "ao ensinamento dos apóstolos [Palavra] e à comunhão, ao partir do Pão [sacramento] e às orações" (Atos 2:42).
A fé em Jesus é o único aspecto essencial da salvação, mas esta fé se dá pela escuta e resposta à pregação do evangelho. Para os episcopais, formados na oração comunitária, seria inconcebível pensar em encontrar Cristo, ao qual somos fiéis, fora da pregação do evangelho feita no seio da igreja, ou responder a isso fora da participação na Santa Ceia, junto com todos os outros batizados. Por isso ser parte de uma comunidade de fé é importante, lá somos nutrimos, animados e santificados pelo Senhor. Para os episcopais, é nas liturgias da Ceia (presença e renovo na celebração da morte e ressurreição de Jesus) que compreendemos quem somos, a quem pertencemos fundamentalmente e por quem somos responsáveis em nossa missão e em nosso ministério em nome de Jesus. Como não há vida de fé sem fraternidade com os outros crentes, não há também missão (nem justiça, nem misericórdia, nem graça) que não tenha fundamentalmente sua fonte de significado no batismo e na liturgia eucarística.
Veja mais de perto a estrutura do culto Episcopal.
1) Os Ritos Iniciais: começam com um cântico em dias especiais com procissão de entrada; os ministros ocupam os seus lugares, saúda-se o povo, pronunciam-se as palavras de acolhida; conduz-se o povo à confissão de pecados e o introduz na adoração a Deus. Aqui cada um também é convidado a acolher os outros, partilhar como foi sua semana, situar-se acerca das atividades da Comunidade.
2) A Liturgia da Palavra: onde se fazem leituras da Escrituras e o Sermão.
3) A Liturgia Eucarística: Aqui se faz a Grande Oração Eucarística, que é uma coletânea de orações, seguida do Pai Nosso, Fração do Pão, Comunhão, Oração Pós-Comunhão.
4) Os Ritos Finais: constam da
despedida, da bênção e do envio ao mundo em missão.
RITOS INICIAIS
A) Preludio: Prelúdio é algo que vem antes, uma introdução. É um artifício usado em histórias para contar algo relevante, é uma preparação para começar o culto com uma música instrumental anunciando que estamos entrando em um momento especial.
B) Boas vindas: É uma saudação informal onde o oficiante dá as boas-vindas aos demais participantes da celebração. Faz a introdução ao tema, ao assunto do respectivo domingo dentro do Calendário do Ano Cristão. Introduz o povo no ambiente da celebração. Saúda os visitantes, comunica orientações sobre como se portar no espaço e da inicio a celebração.
C) Hino: Já acolhidos podemos cantar juntos, assim como o evangelho de Cristo é uma boa notícia, que nos enche de esperança, o culto começa com uma canção, onde podemos abraçar os irmãos (chamado de abraço da paz) que vieram com mesmo propósito, encontrar a Deus e seu corpo.
D) Coleta pela Pureza: Uma oração da tradição episcopal que pede para servirmos a Deus com um coração puro.
D) Confissão: È uma confissão geral de pecados, que deve ser dita de joelhos(segundo a revisão do LOC de 1675, por influência escocesa). Após a igreja ter pedido perdão a Deus o ministro declara a absolvição, afirmando o Senhor perdoou verdadeiramente nosso pecado nos tornando justificados. Quem a pronunciar, fará voltado para o povo, porque se fala em nome de Deus, cujas misericórdias não tem fim e com Quem está o perfeito perdão.
E) Declaração de Perdão: Aqui, o Ministro invoca o perdão de Deus a todos que sinceramente se arrependeram e confessaram os seus pecados.
F) Kyrie: Uma das mais antiga aclamações da Liturgia da Igreja, é o pedido da misericórdia de Deus sobre nós. "Senhor (Cristo) tem piedade de nós! O Kyrie Eleison muito comum na tradição da igreja, já presente no clamor de Bartimeu, no Evangelho. Quando os cristãos passaram a incluir essa exclamação no ofício, estavam a confessar Jesus como único Senhor e negando a veneração divina a qualquer senhor deste mundo. "Kyrie Eleison" é, na sua origem, um clamor coletivo da comunidade pelas dores do mundo e não um clamor individual das pessoas pelo perdão dos seus pecados.
G) Coleta do Dia: É uma oração feita pelo ministro onde se apresentam as necessidades da Comunidade. Algumas destas orações remontam os tempos da Igreja Primitiva.
H) Música: Esta é uma canção de louvor e entrega a Deus, preparando nossos corações para ouvir a voz de Deus por meio de sua palavra.
LITURGIA DA PALAVRA
A) Leituras: Tradicionalmente se faz a leitura de 4 textos da Bíblia, seguindo a seguinte ordem: Antigo Testamento, Salmo, Novo Testamento e Evangelho. A leitura do evangelho e feita com todos estando de pé. A leitura pública dos textos bíblicos e a escuta atenta do fiéis é uma marca da adoração cristã ao longo dos séculos.
B) Sermão: Após a última leitura bíblica e sua respectiva resposta pela comunidade, a Liturgia da Palavra continua com o Sermão, que deve versar sobre as leituras feitas, ou mesmo a outras leituras que o pregador venha a fazer. A pregação da palavra não é o mesmo que uma palestra, acreditamos que Deus fala com seu povo por meio da pregação, então escutamos solenemente. Aqui devemos evitar, com maior dedicação, a conversação, e praticar a escuta ativa, a fim de sermos abençoados por Deus.
C) Profissão de Fé: O "Credo" é a declaração oficial das verdades das Sagradas Escrituras sobre a qual se baseia a fé da Igreja. Foi colocado na liturgia para combater as controvérsias. No Oriente, foi introduzido no ano 417, em Antioquia, e em Constantinopla no ano de 511. No Ocidente, o 3º Concílio de Toledo (589) inseriu o Credo no rito moçárabe contra os arianos. Logo se difundiu na França; mas só foi incorporado à missa romana em 1014. O LOC contém dois Credos: o Apostólico e o Nicenoconstantinopolitano.
O Credo dos Apóstolos é baseado no antigo Credo Romano, que se constituiu a partir do século II, e tem relação com a celebração do batismo. Foi provavelmente em Roma que tal texto se formou.
O Credo Niceno, também é uma paráfrase, um pouco aumentada, do Credo estabelecido pelo Concílio de Niceia, embora só fosse definitivamente elaborado pelo 2º Concílio, em Constantinopla, em 381. É o único Credo universalmente aceito. O LOC ainda oferece outras formas de confissão alternativas.
D) Oração da Comunidade: Aqui os irmãos partilham como foi a semana, este momento também é chamado na tradição litúrgica de "Oração dos Fiéis'. Juntos, como família, levamos a Deus nossa intercessão uns pelos outros com orações espontâneas.
E) Avisos da Comunidade: Aqui a igreja se informa de outras atividades relativas à vida em comunidade, e como se integrar nestas atividades. Pode ocorrer após a Comunhão.
F) Ofertório/ Música: É
parte invariável do culto desde o período apostólico (cf. 1Co
16.2). Os dízimos e ofertas recebidas serão solenemente
apresentadas e postos na Mesa da Santa Ceia, e será recolhido em
seguida por alguém responsável e contabilizado pela tesouraria. As
ofertas partem do povo e significam seu respeito e louvor de gratidão
a Deus.
LITURGIA DA EUCARISTIA
A) Oração Eucarística: a parte central, a parte "sacrificial" por excelência da Celebração da Santa Eucaristia. Sua correspondente nos ritos orientais é a "Anáfora", e no romano, o "Cânon". As palavras da Oração Eucarística não são fórmulas, mas uma oração que a comunidade dirige a Deus, conforme um padrão básico comum. Esse padrão parece estar preservado numa Oração Eucarística registrada na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma e anotada por volta do ano 215. Os anglicanos não acreditam que o sacrifício de Cristo é refeito na Ceia, nem que os elementos do Pão e o do vinho mudam de substância (transubstanciação), mas que Cristo está presente de uma maneira especial neste momento. A Ceia também não é um teatro de memórias, não é mera lembrança, Cristo nos alimenta espiritualmente na Ceia, nossa fé e comunhão são renovadas na Ceia. É um mistério de fé. Esta oração contém inúmeras partes, veja:
I) Convite: esta é a porta de entrada da Ceia, que contem três elementos, forma-se a partir de uma Introdução, o Sursum Corda e um Convite a ação de graças. Ou seja, há um diálogo introdutório, cuja origem é judaica (Seder); "Sursum Corda", é uma palavra de origem latina, Sursum = suspender e corda = coração. Convida-se a comunidade a elevar seus corações, o que equivale dizer pensamentos, a Deus (é um dialogo entre o celebrante e os comungantes que precede à eucaristia em todas as liturgias históricas); terminando com a "Ação de Graças", o celebrante convida a todos a participar deste ato, ação, de agradecimento a Deus.
II) Prefácio: Aqui se dá graças pelas grandes obras de Deus no passado (como Criador e Redentor). A comunidade proclama a sua fé na continuidade de tais atos no presente. A confiança na continuidade da fidelidade de Deus é que permite à comunidade entrar na celebração da Eucaristia, com a certeza de que ali Cristo estará presente e se entregará às pessoas comungantes. Prefácios são expressões de nosso louvor a Deus pelas fases grandiosas do mistério da encarnação e da salvação.
III) Sanctus: O uso frequente do Sanctus no ritual judaico talvez tenha influenciado em sua inclusão na liturgia. Às vezes dá-se o nome de "Triságio" ao Sanctus. Ao fim desta mesma oração se encontra o "Benedictus", a saudação proferida pela multidão a Jesus quando de entrada triunfal em Jerusalém (Mt 21,9). Todas as liturgias anteriores à Constituição Apostólica (350) inserem o Benedictus após o Sanctus, exceto a liturgia do Egito. O LOC de 1549 uniu ao texto original do Sanctus o versículo de Lc 18.38, paráfrase que permaneceu, mesmo depois dos cortes feitos pela revisão de 1552.
V) Palavras da Instituição: Que começa com uma introdução chamada de "Anamnese"(in memoriam mei), não é mera lembrança, recordação, mas realização. A Anamnese chama, invoca uma pessoa ou um acontecimento do passado e o torna presente, ativo, efetivo, aqui e agora. "Seguindo o mandamento de Teu Filho, comemoramos, até que Ele venha". A oração traz a declaração explícita de que se está aqui oferecendo o pão e o cálice, exatamente com esse significado e objetivo de celebrar a obra de Cristo, em obediência à Sua ordem. Então em forma de uma narrativa, se repetem as palavras de Cristo instituindo a Ceia conforme pronunciadas (cf., 1Co 11,24-25). A sua função é recontar o relato da Última Ceia de Jesus com seus discípulos, ou seja: a autoridade para celebrar a Eucaristia não vem da comunidade, mas de Jesus na última ceia. Por isso, reconta-se aqui a narrativa da instituição. Ao dizer as palavras sobre o pão, coloca-se a mão sobre o pão sem fermento (chamado também de hóstia ou obreia), fazendo-se o mesmo com o cálice.
VI) Epiclese: Termo grego, designa, normalmente, o pedido ao Pai, para que envie o Espírito Santo. Invocação do Espírito sobre os elementos eucarísticos, separando-os do uso comum ao sagrado. É a invocação do Espírito para que realize aquilo que é o fruto da Eucaristia, a comunhão em Cristo, sendo, assim, uma invocação do Espírito sobre a Igreja. Por meio dela se expressa que nem a pessoa do oficiante, nem a comunidade, nem a Igreja são proprietárias da Eucaristia. Nenhuma delas tem em seu poder realizar o que a Eucaristia deve realizar, mas, somente Deus, por Seu Espírito.
V) Oração de Humilde Acesso: É uma oração tipicamente da tradição episcopal. Mostra a nossa indignidade em participar a Ceia e o Amor reconciliador de Deus em nos acolher.
B) Oração do Senhor: Conhecida como oração do Pai Nosso. Recordamos aqui a intercessão feita pelo Próprio Cristo ao Pai.
C) Agnus Dei: Que significa Cordeiro de Deus. Era um Cântico primeiramente adotado na liturgia elaborada por Tiago de Jerusalém. Este Agnus Dei mostra a nossa Fé no Cordeiro de Deus imolado pelos nossos pecados e paz entre Deus e os homens por casa de seu sacrifício de amor.
D) Partir o Pão: Fractio Panis. O pão é partido, como feito por Cristo na instituição da ceia junto aos Apóstolos, como ele repete com os discípulos em Emaús, e como os apóstolos seguem fazendo "na comunhão e partir do pão" e a igrejas segue repetindo desde os primeiros séculos como afirma o documento DIDAQUÊ. O Cristo partido, nos convida a nos repartimos também, entregar nosso corpo e sangue aos outros, é o amor sacrificial.
E) Comunhão: Todos que são batizados, com água, e em nome do Pai do Filho e do Espirito Santo, seja de qualquer denominação, são convidados a Cear, vindo à mesa onde serão servidos os elementos. O comungante pode escolher receber os elementos nas mãos ou na boca, diretamente. Geralmente as palavras ditas pelos celebrantes são: "O corpo (sangue) de nosso Senhor Jesus Cristo te preserve na vida eterna", o comungante pode dizer "Amém" se quiser, mas pode apenas receber os alimentos e cear em silêncio. Depois de Cear, retornando ao seu lugar, aguarda em oração, fala com Deus e agradece pela dádiva de fazer parte de seu corpo e de ser um com a Trindade. Ao fim da Ceia os ministros irão também cear. Se por acaso faltarem elementos na ceia, o celebrante faz uma oração em voz baixa consagrando mais elementos e, se sobrarem elementos consagrados, após a celebração, os ministros consomem o excedente, podendo chamar os que ajudam na celebração para auxiliá-los.
F) Pós Comunhão: Todos juntos proclamam uma oração de ação de graças depois da Comunhão. Neste ponto, retornou-se ao padrão das liturgias orientais, estabelecendo uma forma fixa.
RITOS FINAIS
A) Bênção: Retirada dos ritos romanos antigos, continuou a ser usada nos ritos galicanos e naturalmente na Inglaterra, até ao tempo da Reforma, com formas variadas que se alteravam, conforme a estação do calendário litúrgico. O ofício termina com uma bênção pronunciada pelo ministro, em o nome de Deus. É a bênção Trinitária (Em Nome do Pai do Filho e do Espirito Santo) realizada pelo celebrante com a imposição de mãos.
B) Despedida: Enviados em missão, alimentados por Deus, prontos para praticar nossa vocação servindo as pessoas em amor, cheios do Espirito Santo. Antes de ir para casa, dá-se mais um abraço em um irmão e deseja-se-lhe a paz de nosso Senhor.